Carlos Roberto de Oliveira, ou simplesmente Roberto Dinamite, foi um atacante que brilhou entre as décadas de 70 e 90 nos gramados do Brasil. Ele tem sua imagem ligada diretamente ao Vasco da Gama, clube onde foi revelado e vestiu a camisa por 21 anos. Em São Januário, é recordista no número de partidas, com impressionantes 1.110, com 708 gols anotados e 75 em cobranças de falta.
Além do Gigante, o artilheiro defendeu Barcelona, da Espanha, Portuguesa e Campo Grande-RJ. No primeiro, Roberto jogou 11 jogos e balançou as redes três vezes. No segundo, entrou em campo 17 vezes e marcou nove gols. Já no terceiro, foram 14 jogos e nenhum gol. Dinamite também defendeu a Seleção Brasileira. Foram 47 confrontos, com 25 tentos e cinco assistências. Pela Amarelinha, o Camisa 10 disputou as Copas do Mundo de 1978 e 1982.
Seleção Brasileira
Na primeira, esteve em campo cinco vezes e marcou três gols, ficando como artilheiro brasileiro naquele Mundial ao lado de Dirceu. Entretanto, na segunda, sequer chegou a entrar em campo por decisão de Telê Santana. O titular na ocasião foi Serginho Chulapa, ídolo do São Paulo, que era muito questionado na época. É nesse gancho que é possível começar a discussão sobre a desvalorização do ídolo vascaíno.
Vivia uma grande fase da minha carreira, não tive a oportunidade de jogar na seleção do Telê (Santana). Respeito aquilo que foi realizado por ele e os jogadores dentro da Copa, mas me via numa condição de ser, ou ter o direito de ser aproveitado, ter uma chance dentro da minha geração, que para mim foi a melhor que tivemos nos últimos tempos. Decepção de não ter tido a oportunidade de jogar uma partida dentro da Copa do Mundo.
Roberto Dinamite, em entrevista ao programa Mesa Redonda, em setembro de 2021
Tanto na Argentina quanto na Espanha, Roberto foi chamado para substituir alguém cortado, casos de Nunes e Careca, respectivamente. Acredita-se que o comandante da Amarelinha levou o ídolo vascaíno apenas para atender um grande clamor nacional dos brasileiros, que queriam o craque vestindo a camisa da Seleção Brasileira. Posteriormente, Dinamite nunca mais teve a chance de disputar um Mundial.
Reinaldo, outro craque da época, ídolo do Atlético-MG, lesionado na época da Copa do Mundo da Espanha, falou sobre Telê Santana. O ex-atacante não mediu palavras e colocou Telê Santana como culpado pela não conquista da competição. Para ele, a própria ousadia do técnico foi responsável pela derrota para a Itália (3 a 2), levando em conta que a Seleção Canarinha precisava apenas do empate para avançar à semifinal.
Eu acho que o Brasil perdeu a Copa de 82 não foi por causa dos jogadores, não. Foi por causa do Telê mesmo. O Telê não jogava por resultado, era para massacrar o adversário. Ele não queria ganhar de 1×0. A filosofia dele sempre foi essa. O futebol arte, vamos para cima, vamos ganhar. Então, acho que ali o Telê subestimou a Itália. O Brasil jogava pelo empate, então começou com o resultado favorável, e foi para cima da Itália, tomou um gol, assustou, empatou, pensou em ganhar de novo, levou o segundo, assustou. Foi para o intervalo, voltou, empatou, pensou em ganhar de novo. Naquela o Telê exagerou na dose. Se ele fizesse um jogo mais conservador, o Brasil ganhava mole da Itália. O futebol não aceita essa arrogância, subestimar. Você não precisa ganhar o jogo, vai querer massacrar? Chama o adversário. O jogo é jogado.
Reinaldo, em entrevista ao programa Kajuru Pergunta, em janeiro de 2012
Jornalista renomado e flamenguista declarado, Mauro Cezar chegou a dizer que Roberto Dinamite foi injustiçado na Copa de 82. Apesar de considerar Serginho Chulapa um grande jogador, citando a artilharia histórica pelo São Paulo, o profissional ressaltou que, no quesito técnico, o ídolo vascaíno poderia agregar mais para aquela seleção, que tinha outros grandes craques como Zico, Paulo Roberto Falcão e Sócrates. Além disso, Mauro citou a baixa valorização do Camisa 10 nos tempos atuais.
Em 82 só foi convocado porque o Careca se machucou e o Reinaldo havia se machucado antes. Jogava Serginho (Chulapa), sem dúvidas um grande atacante, até hoje é o maior goleador da história do São Paulo, mas Roberto era bem melhor e mostrou isso no final da carreira, quando jogando ao lado de Romário passou a trabalhar até como meia, mais cerebral, dando passes, lançamentos, não tinha mais a mesma presença de área e toda a explosão e velocidade, que ficava com o “Baixinho”. Já veterano, Roberto participou de uma grande dupla com Romário, que surgia para o futebol. Roberto marcou época, foi um grande ídolo, um excepcional jogador, que me parece não ser tão valorizado como deveria. Acho até que deveria ter jogado na Copa de 82, e não o Serginho. Ele tinha mais recursos técnicos para combinar melhor com o estilo do Zico, que conhecia tão bem como adversário, jogando pela Seleção Brasileira, e com Sócrates, Falcão, Roberto era mais inteligente, que participava melhor das jogadas ofensivas, além de ser um grande finalizador.
Mauro Cezar Pereira, em vídeo publicado em seu canal no Youtube em abril de 2020
Telê Santana voltou a ignorar o ídolo vascaíno na Copa do Mundo de 1986, no México, só que ,desta vez, sequer o chamou. Na época, o Camisa 10 vivia uma grande fase com a camisa do Cruzmaltino. O comandante levou, na ocasião, Muller, Careca, Casagrande e Edivaldo como opções para o ataque. Vale ressaltar que, Renato Gaúcho estaria nessa lista, mas acabou cortado às vésperas do Mundial por uma ‘escapada’ da concentração da seleção com o lateral-direito Leandro, outro que ficou de fora. Ao contrário das outras duas edições, Roberto Dinamite não se beneficiou do corte.
Barcelona e… Flamengo?
O Camisa 10 brilhou ao longo da década de 70 pelo Vasco, até que despertou o interesse do Barcelona, da Espanha, para onde se transferiu no início de 1980. Entretanto, o atacante não se adaptou ao futebol europeu, e eram outros tempos, quando jogar no Brasil era tão vistoso ou até melhor do que na Europa.
A partir disso, surgiram oportunidades para que o craque voltasse ao futebol brasileiro, só que o destino quase foi o Flamengo, justo o arquirrival do Gigante da Colina. Porém, entrou em cena a figura de Eurico Miranda, que tratou de atravessar o negócio e o repatriou para o Cruzmaltino.
O atacante reestreou com a camisa vascaína contra o Corinthians, diante do Maracanã lotado. O jogo era válido pelo Campeonato Brasileiro, e no Maraca, misturado aos corintianos, estavam muitos flamenguistas, que permaneceram no estádio após o confronto entre Flamengo e Bangu, em rodada dupla. Na ocasião, formou-se a ‘Fla-Fiel’, que teve que assistir ao show de Roberto Dinamite, que carimbou a volta em grande estilo com nada menos que cinco gols marcados na goleada carioca sobre os paulistas (5 a 2).
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Lembro do que sentia já no túnel de acesso, podendo sentir o calor da torcida. Casa cheia, sem nenhum espaço vazio e a presença de mais de 100 mil torcedores. Apesar de afastados geograficamente, o ato de torcer que fazia quase que por unir Geral e Arquibancada, como se fossem uma coisa só, dando a impressão que o Maracanã não era mais um local: era uma Coisa; algo vivo que pulsava. E pulsava junto conosco.
Roberto Dinamite em entrevista ao site Extra, em junho de 2020
Números de Dinamite em jogos oficiais em cada ano
1971 – Vasco
- Campeonato Brasileiro – 1 gol
Total: 1 gol
1972 – Vasco
- Campeonato Carioca – 2 gols
- Campeonato Brasileiro – 4 gols
Total: 6 gols
1973 – Vasco
- Campeonato Carioca – 5 gols
- Campeonato Brasileiro – 9 gols
Total: 14 gols
1974 – Vasco
- Campeonato Brasileiro – 20 gols
- Campeonato Carioca – 17 gols
Total: 37 gols
1975 – Vasco
- Libertadores – 2 gols
- Campeonato Carioca – 25 gols
- Campeonato Brasileiro – 15 gols
Total: 42 gols
1976 – Vasco e Seleção Brasileira
- Campeonato Carioca – 14 gols
- Torneio Bicentenário dos Estados Unidos – 2 gols
- Amistosos – 2 gols
- Taça Atlântico – 2 gols
- Campeonato Brasileiro – 12 gols
Total: 32 gols
1977 – Vasco e Seleção Brasileira
- Amistosos – 2 gols
- Eliminatórias para a Copa do Mundo 1978 – 4 gols
- Campeonato Carioca – 24 gols
- Campeonato Brasileiro – 6 gols
Total: 36 gols
1978 – Vasco e Seleção Brasileira
- Campeonato Brasileiro – 15 gols
- Copa do Mundo – 3 gols
- Campeonato Carioca – 19 gols
Total: 37 gols
1979 – Vasco e Seleção Brasileira
- Campeonato Carioca (especial) – 5 gols
- Campeonato Carioca – 28 gols
- Copa América – 1 gol
- Campeonato Brasileiro – 10 gols
Total: 44 gols
1980 – Barcelona e Vasco
- La Liga – 2 gols
- Supercopa da Europa – 1 gol
- Campeonato Brasileiro – 8 gols
- Campeonato Carioca – 16 gols
Total: 27 gols
1981 – Vasco e Seleção Brasileira
- Campeonato Brasileiro – 14 gols
- Campeonato Carioca – 30 gols
- Amistoso – 1 gol
Total: 45 gols
1982 – Vasco
- Campeonato Brasileiro – 12 gols
- Torneio dos Campeões – 5 gols
- Campeonato Carioca – 15 gols
Total: 32 gols
1983 – Vasco e Seleção Brasileira
- Campeonato Brasileiro – 9 gols
- Campeonato Carioca – 7 gols
- Copa América – 3 gols
Total: 19 gols
1984 – Vasco
- Campeonato Brasileiro – 16 gols
- Campeonato Carioca – 8 gols
Total: 24 gols
1985 – Vasco
- Campeonato Brasileiro – 16 gols
- Libertadores – 1 gol
- Campeonato Carioca – 12 gols
Total: 29 gols
1986 – Vasco
- Campeonato Carioca – 19 gols
- Campeonato Brasileiro – 5 gols
Total: 24 gols
1987 – Vasco e Seleção do Rio de Janeiro
- Campeonato Carioca – 15 gols
- Campeonato Brasileiro – 6 gols
- Brasileiro de Seleções – 2 gols
Total: 23 gols
1988 – Vasco
- Campeonato Carioca – 1 gol
- Campeonato Brasileiro – 3 gols
Total: 4 gols
1989 – Vasco e Portuguesa
- Campeonato Carioca – 9 gols
- Campeonato Brasileiro – 9 gols
Total: 18 gols
1990 – Vasco
- Campeonato Carioca – 3 gols
- Libertadores – 1 gol
Total: 4 gols
1992 – Vasco
- Copa Rio – 2 gols
- Copa do Brasil – 1 gol
- Campeonato Carioca – 8 gols
Total: 11 gols
TOTAL GERAL: 509 GOLS
Gráfico de desempenho
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Títulos, feitos e eternidade
Com o ídolo em campo, o Vasco conseguiu, muitas vezes, bater de frente com o vitorioso Flamengo da década de 80, que tinha o craque Zico, que se tornou um amigo de longa data de Dinamite. O Camisa 10 vascaíno acumulou muitos recordes ao longo da carreira, como o de maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro (190 gols), do Campeonato Carioca (284 gols), do Estádio de São Januário (184 gols) e dos clássicos do Rio de Janeiro (87 gols). O atacante levou o prêmio de artilheiro do Brasileirão nas edições de 1974 e 1984. O craque foi o maior goleador do Cariocão em 1978, 1981 e 1984.
Quanto aos títulos, Dinamite levantou muitos troféus ao longo da carreira, parte deles em competições amistosas, caso, por exemplo, da Seleção Brasileira. Em relação aos clubes, considerando as competições oficiais, Roberto conquistou, pelo Cruzmaltino, cinco vezes o Campeonato Carioca (1977, 1982, 1987, 1988 e 1992), além do Campeonato Brasileiro de 1974.
O craque se despediu dos gramados no dia 24 de março de 1992, em amistoso contra o Deportivo La Coruña, da Espanha, No Maracanã, que recebeu cerca de 30 mil pessoas. A equipe espanhola venceu (2 a 0), mas o confronto ficou marcado mesmo pelo fato de que Zico, ídolo do arquirrival, vestiu a camisa vascaína.