Possivelmente você conhece o Prêmio Puskás, que contempla o gol mais bonito de cada ano em escala mundial desde 2009. Talvez saiba também que a origem do nome é uma homenagem ao húngaro Ferenc Puskás, mas é possível que não entenda o que levou a FIFA a batizar a honraria com o nome do atacante.
Os mais jovens devem estranhar um jogador da Hungria estar em destaque. Na verdade, não precisa ser tão novo assim para não entender bem isso, já que o futebol húngaro teve seu ápice entre as décadas de 30 e 50, época em que o futebol entrava na era da profissionalização, quando a configuração da modalidade era totalmente diferente.
Na época, a Seleção Húngara disputou duas finais de Copa do Mundo, sendo a primeira em 1938, na França, que culminou na derrota para Itália por 4 a 2, e a segunda 1954, na Suíça, quando os húngaros, com a ajuda de Puskas, eliminaram a Seleção Brasileira no caminho, mas perderam a final para a Alemanha por 3 a 2, o que será aprofundado daqui a pouco.
Seleção da Itália 1938 x Seleção da Hungria 1938
Os também europeus foram medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Helsinque, na Finlândia, em 1952. Além disso, foram campeões da Copa Internacional da Europa Central, a antiga Copa Dr. Gerö, na edição que aconteceu entre 1949 e 1953. Puskás foi o artilheiro do torneio com 10 gols anotados e a Hungria teve o melhor ataque com 27 bolas nas redes.
Apelidado de os “Magiares” e de “Time de Ouro” à época, a Hungria do fim da década de 40 e começo de 50 encantava e chegou a ficar quatro anos sem perder, entre 1950 e 1954, período que disputou 31 partidas. Trata-se de uma das grandes invencibilidades da história das seleções. Os húngaros ficaram marcados também por terem revolucionado o futebol taticamente, com um time ofensivo, basicamente em um 3-5-2, com movimentação.
O mágico time da Hungria do século passado também se destacava pelo jeito ofensivo de jogar, no famoso WM. Esse esquema era basicamente um 3-5-2, mas com muita movimentação dos jogadores em campo, principalmente do centroavante, que jogava mais recuado. Tal estilo de jogo foi tão importante, que revolucionou o jeito de se enxergar futebol.
No intervalo sem derrota, a Seleção Húngara, que não disputou a Copa do Mundo de 50, no Brasil, vencida pelo Uruguai, conseguiu a medalha de ouro olímpica em 52, participou do ‘Jogo do Século’, quando venceu a Inglaterra por 6 a 3 em pleno Estádio de Wembley, em 53, e obteve sua melhor campanha na história dos mundiais, em 54. Na edição, os Magiares conseguiram resultados expressivos, goleadas de 8 a 3 na Alemanha e 9 a 0 sobre a Coréia do Sul.
O Time de Ouro, consequentemente, teve o melhor ataque do torneio com 27 gols nas cinco partidas, com quatro vitórias. O único jogo que não venceu, no entanto, foi justamente na decisão, contra a Alemanha, a mesma que havia goleado anteriormente. Desta vez, novamente em partida movimentada, a Hungria foi superada por 3 a 2, no que ficou conhecido como “O Milagre de Berna” e encerrava também a sequência invicta, no pior momento possível.
Seleção da Alemanha 1954 x Seleção da Hungria 1954
O Puskás
Nascido em 1º de abril de 1927, em Budapeste, Ferenc teve um papel essencial nessa era vitoriosa do seu país. Conhecido também como Major Galopante, o craque anotou, pela Seleção da Hungria, 84 gols em 85 partidas, uma média de quase um por jogo. Por clubes, foram mais de 500 bolas nas redes em 528 confrontos, vestindo as camisas do Budapest Honved e Real Madrid, os únicos times na carreira do atacante.
Pela equipe húngara, Puskás jogou entre 1943 e 1957, longo período que conquistou o Campeonato Nacional cinco vezes, entre 1949 e 1955, além de ter sido artilheiro em quatro edições, entre 1947 e 1953. O Honved, antes chamado de Kispest e depois de Kispest-Honved, era uma potência do país daquela época, tanto que foi base do equipe medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Helsinque, na Finlândia, e vice-campeão da Copa do Mundo de 1954, na Suíça.
O Major Galopante deixou o clube com a Revolução Húngara, em 1956. Na longa passagem, foram 375 gols em 356 jogos, portanto, média que supera a um por partida. Após ano sabático em 1957, período que passou em exílio na Áustria, Ferenc, aos 31 anos, acertou com o Real Madrid em 1958, convidado por Emil Östreicher, um velho conhecido do Honved. Pela equipe espanhola, foram 242 bolas nas redes em 262 aparições, entre 58 e 1967.
Em Madrid, Puskás formou uma dupla lendária com o argentino Di Stéfano e conquistou muitos títulos, cinco Campeonatos Espanhóis, três Liga dos Campeões, uma Taça Intercontinental e uma Taça da Espanha. Ferenc ainda disputou a Copa do Mundo de 1962, no Chile, mas vestindo a camisa da Seleção Espanhola após sua naturalização, o que não seria possível atualmente, por já ter disputado torneios pela Hungria.
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O desempenho no Mundial, no entanto, não foi tanto coletivamente quanto individualmente. A Espanha terminou na lanterna do Grupo 3, com apenas dois pontos, atrás de Brasil (cinco pontos), Tchecoslováquia (três pontos) e México (dois pontos). As duas primeiras ainda fizeram a final posteriormente, com a conquista brasileira, que vencia a Copa do Mundo pela segunda vez na história e de forma consecutiva. Puskás disputou os três jogos pela Fúria, mas não balançou as redes.
Aposentado dos gramados após a saída do Real Madrid, o húngaro ainda se arriscou na carreira de técnico e passou por clubes da Espanha, da Austrália, da Grécia, da Arábia Saudita, do Egito e até da América do Sul. Ferenc passou por Colo-Colo, do Chile, além de Sol de América e Cerro Porteño, ambos do Paraguai. O Major Galopante ainda comandou rapidamente a Seleção Húngara, antes da aposentadoria, em 1993. No cargo de comandante, venceu o Campeonato Grego e o Campeonato Paraguaio duas vezes cada.
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Ferenc foi um dos maiores artilheiros do século XX e, quando pendurou as chuteiras, se tornou um bom técnico. Ele faleceu aos 79 anos, em 17 de novembro de 2006, em consequência do mal de Alzheimer. Ao longo do tempo, Puskás foi homenageado de várias forma, batizando nome de estádio, a Puskás Arena, situada em Budapeste, nomeando time, o Puskás Akadémia FC, e entre outras, o exemplo mais conhecido a premiação de gol mais bonito de cada ano, entregue pela FIFA, que existe desde 2009.
O prêmio
A entidade máxima do futebol reconheceu sua grandeza e contribuição para o futebol e o homenageou para comemorar a carreira excepcional. Desde então, vários atletas faturaram a honraria, exemplos de Neymar Jr., Cristiano Ronaldo e Zlatan Ibrahimovic. A escolha acontece através de votação, com participação do público. Joseph Blatter, presidente da FIFA entre 1998 e 2015, reforçou a importância da reverência durante uma entrevista.
O canal Elencos preparou um vídeo especial somente sobre o Prêmio Puskás, contando um pouco da história do próprio craque, a decisão pela homenagem e seus vencedores.
Brasil no prêmio
Para levar a honraria para casa, o jogador precisa ter o golaço selecionado entre especialistas convidados pela Fifa e votação do público. Até o momento, três brasileiros venceram, casos de Neymar, em 2011, jogando pelo Santos contra o Flamengo, e Wendell Lira, em 2015, que estava no Goianésia, diante do Atlético-GO, além de Guilherme Madruga, do Botafogo-SP, sobre o Novorizontino.
Neymar, que anotou um golaço após driblar toda a defesa adversária, disputou com Lionel Messi, do Barcelona, da Espanha, e Wayne Rooney, do Manchester United, da Inglaterra. Já Wendell Lira, que fez gol em um belo voleio, também superou o craque argentino e Alessandro Florenzi, da Roma, da Itália. Guilherme Madruga, que acertou uma belíssima bicicleta de fora da área, teve como oponentes Nuno Santos, do Sporting, de Portugal, e Julio Enciso, do Brighton, da Inglaterra.
O Brasil também teve um representante ao Puskás em 2022, caso de Richarlison, com o golaço de voleio contra a Sérvia, pela Seleção Brasileira pela Copa do Mundo do Catar, mas não faturou. O prêmio foi para Marcin Oleksy, do Warta Poznan, da Polônia, atleta de futebol para amputados. O francês Dimitri Payet, que na época estava no Olympique de Marselha, da França, também era o terceiro na disputa.
Hungria após Puskás
Sem Puskás, a Seleção da Hungria ainda teve alguns anos à frente de resultados interessantes, mas nada próximo aos dois vice-campeonatos de Copa do Mundo. Por exemplo, com mais duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 1964, em Tóquio, e 1968, na Cidade do México.
Os húngaros também conseguiram ótimos resultados nas Eurocopas de 1964, na Espanha, quando terminou em terceiro, e de 1972, na Bélgica, com a quarta colocação. Lembrando que Ferenc na década de 60 estava naturalizado espanhol e não defendia os Magiares desde 1956.
Além disso, depois da lenda, os europeus conseguiram duas goleadas marcantes em Copas do Mundo, um 9 a 0 sobre Zaire (atual República Democrática do Congo), em 1974, na Alemanha, e um 10 a 1 sobre El Salvador, em 1982, na Espanha. A seleção, no entanto, viveu um grande hiato de participação em Eurocopas, entre 1976 e 2012.
Na atualidade, com todo respeito à história, mas o futebol húngaro não tem sequer resquício do que foi no passado, sem conseguir resultados expressivos com clubes e seleção, embora tenha feito participações interessantes nas Eurocopas de 2016, na França, e 2020, na Inglaterra.
Em 16, a Hungria ficou em 1º no Grupo F, com cinco pontos, à frente de Islândia (cinco pontos), Portugal (três pontos) e Áustria (um ponto), mas deixou o torneio em seguida, nas oitavas de final, ao ser goleada por 4 a 0 pela Bélgica, que tinha uma grande geração na época.
Já na edição de 20, os húngaros terminaram na lanterna do Grupo F, com dois pontos, mas que foram conseguidos em empates com as gigantes França em 1 a 1, e Alemanha em 2 a 2. Portanto, pelo menos a nível continental, a Hungria ainda mostra sinais de resistência ao seu talento.
A última participação do país em Copa do Mundo aconteceu na edição de 1986, na Espanha, quando ficou na 3ª posição do Grupo C, com dois pontos, superando apenas o Canadá, que não somou nenhum. União Soviética e França, ambas com cinco pontos, se classificaram na chave.